segunda-feira, 13 de junho de 2011

O LATIM CONTINUA VIVO!!!

LATIM: UMA LÍNGUA MORTA? POR QUÊ?

Ouvir de alguns mestres da língua Portuguesa que a Língua Latina é uma língua morta, deixa-me apreensivo, não pelo fato de tê-los como “perseguidores” da importância que ela representa para todos nós, mas, sobretudo pela falta de reconhecimento a tudo aquilo que o Latim representa para o perfeito e mais profundo conhecimento morfológico, além do respeito por quem ainda é lembrado no nosso dia-a-dia.
Talvez os professores de Língua Portuguesa, preocupados com a importância de levar aos seus alunos conhecimentos necessários para os milhares de concursos públicos e vestibulares, não se tenham dado ao luxo de refletirem cuidadosamente sobre o verdadeiro estudo da nossa MORFOLOGIA, ou seja, do estudo da estrutura e formação das palavras.
Se fizermos uma pesquisa entre os mais dedicados alunos da nossa língua mater, talvez sejamos decepcionados em saber que eles desconhecem a origem, por exemplo, da palavra AGRICULTURA. Talvez não saibam eles que esta palavra é formada pelo prefixo latino AGRI, que significa campo, somado à palavra CULTURA = cultivo, ou seja, a palavra agricultura é o cultivo do campo.
Como pode uma língua estar morta, quando ela se faz presente em milhares de palavra, seja como PREFIXO, seja como SUFIXO? É fácil saber que a palavra FRATERNIDADE (do latim fraternitas, ou fraternitatis) é um substantivo, comum, feminino, singular; que ela é polissílaba, por ter mais de quatro sílabas e que é abstrata. Mas precisamos saber que ela é formada pelo prefixo FRATER (irmão) e que é originária do latim FRATERNITAS e que significa laço de parentesco entre irmãos.
Se recorrermos à Gramática Normativa da Língua Portuguesa, descobriremos que existem, pelo menos 42 radicais latinos e 60 prefixos latinos que, juntos, totalizam milhares de palavras, todas elas essenciais na formação de frases usadas nas mais diversas ocasiões. Isso sem levar em consideração os mais de 90 radicais gregos. Ou seja, a Língua Portuguesa não existiria sem a presença do Latim.
Para dar mais ênfase ao que temos colocado aqui, consideremos que “os sufixos da Língua Portuguesa possuem origem variada. Predominam, no entanto, os de origem grega ou latina,” Podemos ir mais além com a afirmativa de que “a grande maioria das palavras da Língua Portuguesa vem do LATIM, falado na Europa medieval e no antigo Império Romano, ou do grego antigo.”(veja o estudo da Morfologia).
E aí??? Diante do que vimos, como admitir que o Latim é uma língua morta? Qual a explicação lógica e convincente para esta afirmativa?
O que é, realmente, América Latina? Parece-nos que se trata de uma região da América onde são faladas primordialmente línguas românticas, ou seja, derivadas do LATIM, particularmente o Espanhol e o Português. Precisamos lembrar que a América Latina tem uma área aproximada de 21.069.501 km2, o que representa em torno de 3,9% da superfície terrestre. Vamos mais além na informação, mostrando que a América Latina tem uma população estimada em torno dos 569 milhões de habitantes.
Faz-se necessário lembrar que a América Latina envolve a América do Sul e Central, com algumas exceções, mas com uma totalidade de 20 países e 11 territórios, que ainda não conquistaram suas respectivas independências.
Somos um país neolatino? Se o somos, estamos inclusos no rol dos que se utilizam de um idioma proveniente daqueles que “se originaram a partir da evolução do Latim, especificamente do Latim Vulgar, falado pelas classes populares.” Fazemos parte, portanto, do grupo de países dependentes do Latim. Caminhamos lado a lado com o Espanhol, o Italiano, o Francês, o Romeno e o Catalão.
Mesmo assim, ainda é o Latim uma língua morta??? Precisamos rever esta tese defendida por estudiosos da Língua Portuguesa que, segundo os dados aqui citados, não condizem com uma realidade que está exposta para a reflexão de cada professor e de todos os estudantes interessados em conhecer melhor a sua língua.
Talvez seja esta uma missão impossível por ter que envolver um “universo” de interesses lingüísticos. Eu, no entanto, não fujo desta minha convicção: O LATIM ESTÁ VIVO e representa em muito a beleza do nosso idioma. Se quisermos “sepultar” o Latim, que criemos uma língua própria, eliminando todo e qualquer uso de prefixos e radicais latinos.
Isto não parece algo impossível, diante das muitas reformas feitas pelos “doutores” da língua (sem uma consulta popular), inclusive a mais recente que, de uma forma ou de outra, veio complicar a vida de quem já não via o nosso idioma como algo fácil de ser entendido e compreendido.
Se estar vivo é estar em evidência em determinados países, por que se imortalizam homens e fatos que só existem em nossas parcas lembranças? A Língua Latina será sempre imortalizada, a partir do momento em que se torna presente no nosso cotidiano.
Eu posso até estar sendo mal entendido. No entanto, de uma convicção eu não me afasto: a de que ao pronunciarmos palavras como HABEAS-CORPUS, PER CAPITA, ET CETERA (etc.), VEREDICTO (vere dictum), DURA LEX SED LEX (a lei é dura, mas é lei), LATUS CENSOS, VADEMECUM, DATA VENIA, entre milhares de outras usadas com muita freqüência, estamos provando que o Latim está vivo.
Só um pequeno lembrete: quando você pronunciar as palavras MÃE (mater), PAI (pater), FILHO (filius) e FAMÍLIA (família), fique sabendo que elas são todas derivadas do Latim. E mais ainda: se você tem uma religião, é porque os latinos criaram a palavra RELIGIO ou RELIGIONIS.
Depois de tudo isso e com tantas justificativas inquestionáveis, você deve concordar comigo, pelo menos em um ponto: somos um povo ingrato ao assassinarmos uma língua que nos deu o direito e o orgulho de sermos a “ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO, INCULTA E BELA” (livro “Poesias”), como disse muito bem o poeta parnasiano Olavo Bilac.
Concordem ou não, o Latim continua vivinho e sem ele a Língua Portuguesa deixaria de existir, ou não seria tão bela como parece. Aliás, nunca os doutores da língua se preocuparam em defender uma língua própria para nós os brasileiros que, num saudosismo profundo, continuamos sendo PORTUGUESES.
Tenho dito!

AGORA, QUE TAL UMAS AULAS DE LATIM?

LIÇÃO 01

ESTUDO DIRIGIDO DA LÍNGUA LATINA
PARTE INTRODUTÓRIA:
         Esta parte introdutória é apenas para que tenhamos um conhecimento básico da língua que vamos estudar.
          A língua latina remonta do século VII a.C., indo até o século V d.C. Vale salientar que, historicamente, o latim perdura do período que vai da fundação de Roma, em 753 a.C., até a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C.
          O latim originou-se do “Latium”, uma região central da Itália, sendo falado pelos humildes pastores e por rústicos agricultores. Ele foi absorvendo os demais falares itálicos, chegando a tornar-se a língua nacional de todo o Império Romano, embora não chegasse a ser uma língua rigorosamente uniforme em todo o país.
          Historicamente, o latim, assim como todas, ou a maioria das línguas, tem a sua história. O chamado Período Proto-histórico, vai do século VII até 240 a.C., com o surgimento dos primeiros documentos da língua. O Período Arcaico vai de 240 a.C. até o ano 81 a.C., com o surgimento dos textos literários e os textos epigráficos.
          O Período Clássico começa no ano 81 a.C. e vai até o ano 17 p.C.. É o chamado Século de Cícero, quando a prosa atinge a sua perfeição com Cícero e Cesar. Esse período envolve ainda  o Século de Augusto, quando a poesia chega à sua perfeição com Vergílio, Horácio e Ovídio.
          Depois, vem o Período Pós-Clássico, que começa no ano 17 p.C. e vai até o século V. No século I e início do, século II, surgem numerosos poetas e prosadores. Mas eles não são originários da Itália. Já do século II até o século V, sente-se uma acentuada interferência da língua corrente, na língua literária.
       Havia uma certa diferença na pronúncia entre o latim clássico e o latim vulgar:
       O CLÁSSICO      O VULGAR
       Álacrem                Alácre            >     Alegre
       Cáthedram            Cathédra       >     Cadeira
       Pónere                   Ponére          >     Pôr
       Condúcere             Conducére    >     Conduzir
       O Latim foi levado pelos romanos até a Península Ibérica, ou Hispânica. Nada se sabe sobre os povos que ali habitavam.
       Sabe-se apenas que se tratavam de iberos, celtas, fenícios, gregos e cartagineses. Também se sabe que muitos séculos antes de Cristo, a Península era habitada pelos Iberos, um povo agrícola e pacífico.
        A Península foi invadida, no século VI a.C., pelos Celtas, um povo turbulento e guerreiro. Ele se mesclaram com os Iberos, dando origem aos povos Celtiberos.
        Os tempos passaram e os Fenícios, os Gregos e os Cartagineses estabeleceram colônias comerciais em vários pontos da Península.
        As coisas mudaram quando os Cartagineses tentaram se apoderar  totalmente da Península, levando os Celtiberos a pedir socorro aos romanos que, no século III a.C., invadiram a Península.
        Mas não foi o Latim visto nas obras dos grandes escritores latinos como Cícero, César, Horácio, entre outros (o clássico), que chegou à Península, mas o Latim usado pelo povo (o vulgar).
        No entanto, algumas povoações receberam diretamente a influência dos árabes que, vindos da parte da África, no século VIII, tentaram impor sua língua. Chegaram até a formar os moçárabes (misto árabe), mas sem muito sucesso.
        Cerca de mil vocábulos de origem árabe ainda existem na língua portuguesa. Eles se caracterizam, de um modo geral, pelo prefixo AL (artigo definido árabe), como exemplo, podemos citar: álgebra – algibeira – álcool – alcatifa – alface – algarismo – alfazema – alcachôfra – almofada – alfafa – alfinete – algema – algodão – alqueire – etc.
        A partir do século XV, a Língua Portuguesa é levada às regiões conquistadas, estendendo o seu domínio geográfico.
          Existiam, em Roma,  duas modalidades  acentuadamente distintas: o Latim Clássico, (conhecido como SERMO URBANUS, mais usado nas escolas ou Academias), e o Latim Vulgar, (conhecido como SERMO VULGARIS, sem se preocupar com as exigências gramaticais).
          Não podemos esquecer de outras modalidades desta preciosa língua: O BAIXO LATIM, falado pelos padres da Igreja da Idade Média, que se preocupavam com a formação moral de suas ovelhas; e o LATIM BÁRBARO, conhecido como o Latim dos copistas da Idade Média. Era um latim mesclado de vocábulos romances e provinciais.
          E qual a diferença entre o latim clássico e o vulgar? Esta, certamente, seria uma pergunta inevitável.  Pois bem!
          I - A primeira grande diferença a ser vista está justamente na fonética. Entre o povo, havia uma tendência geral de evitar os vocábulos proparoxítonos, transformando-os em paroxítonos. Por exemplo: a palavra ALEGRE era pronunciada no clássico ÁLACREM, enquanto no vulgar se pronunciava ALÁCRE; a palavra CADEIRA era CÁTHEDRAM, no latim clássico, e CATHÉDRA, no vulgar.
         II - Outra diferença era notada no Léxico, havendo a predominância de uso de vocábulos mais populares e afetivos com sufixos diminutivos, como podemos ver nos exemplos seguintes:
a)   A palavra IGNIS, que significa fogo, foi substituída por FOCU, com sentido de “fogo doméstico”, lar.
b)   A palavra AURIS, que significa orelha, foi substituída pela forma diminutiva AURÍCULA.
c)   A palavra EQUUS, que no latim clássico significava cavalo, foi substituído por CABALLU, que designava animal de trabalho e que tinha um certo cunho pejorativo.
d)   A palavra GENU (joelho), foi substituída por GENUCULU, transformando-se em GEOLHO, no português arcaico.
         III - Nota-se outra diferença entre o latim clássico e o vulgar, considerando-se a parte morfológica, havendo uma tendência para o uso de formas analíticas, conforme podemos ver a seguir:
a)   Enquanto no latim clássico se dizia LIBER, no latim vulgar usava-se ILLU ou LIBRU (o livro), ou UNU LIBRU (um livro)
b)   Encontramos uma diferença no uso das formas analíticas na voz passiva dos verbos. Por exemplo, o Presente do Indicativo passivo de AMARE (amar), era, no latim clássico, AMOR, enquanto no latim vulgar dizia-se AMATUS SUM (sou amado).
c)   Há ainda uma diferença, considerando-se  o uso das formas analíticas para os graus dos adjetivos. No latim literário, por exemplo,  ao comparativos e os superlativos eram formado de maneira sintética, ou seja, por sufixos. Assim, enquanto no latim clássico se dizia DULCIOR, enquanto que no vulgar dizia-se MAGIS ou PLUS DULCE (muito doce). A forma Magis teve predominância na Península Ibérica. Naturalmente, o superlativo seria DULCÍSSIMUS no latim clássico, enquanto no latim vulgar seria usado MULTU DULCE (muito doce), na sua forma analítica.
          IV – Há também diferença na sintaxe, ou seja, enquanto no latim clássico a função sintática das palavras na frase   era exprimida através  de desinências conhecidas como CASOS (veremos mais na frente), no latim vulgar procurava-se eliminá-las, evidenciando as relações entre as palavras por meio de preposições. Considerando a palavra LIVRO como sujeito (o livro), teríamos, no latim clássico LÍBER (nominativo), e no latim vulgar ILLU ou UNU LIBRU.
          No período clássico, o alfabeto latino contava vinte e três (23) letras: A-B-C-D-E-F-G-H-I-K-L-M-N-O-P-Q-R-S-T-U-X-Y-Z.
          Vale a pena lembrar que as letras Y e Z só apareciam em transcrições de palavras gregas. Por isso, muitos não as consideravam como letras latinas.
          Outro registro que queremos fazer é referente às vogais latinas: A-E-I-O-U. Elas são pronunciadas como em português. Já o Y tem o som aproximado ao U francês (tem um som entre o I e o próprio U, com o tradicional “biquinho” francês).
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LIÇÃO 01
          Durante a evolução do Latim para o Português vamos encontrar algumas alterações, que serão chamadas de METAPLASMOS. Lembramos que estas alterações são apenas fonéticas, com as palavras conservando seu significado. Esses Metaplasmos aparecem de quatro maneiras distintas:
a)   Por aumento (prótese, epêntese e paragoge);
b)   Por supressão (aférese, síncope, apócope e crase);
c)   Por transposição (metátese, hipértese, sístole e diástole);
d)   Por transformação (vocalização, consonantização, nasalização, assimilação, dissimilação, sonorização, palatização, assibilação, ditongação, redução, apofonia e metafonia).
Vejamos alguns exemplos:
Metaplasmos por Aumento
a)   Aumento por prótese: Stare  >  estar; Spiritu  >  espírito; Scutu  >  escudo.
b)   Aumento por epêntese: Stella  >  estrela; Humile  >  humilde; umeru  >  ombro.
c)   Aumento por paragoge: Ante  >  antes.
          Metaplasmos por Supressão
a)   Por aférese: Acume  >  gume; Attonitu  >  tonto; Episcopu  >  bispo; Horologiu > orologio > relógio; Apoteca > abodega > bodega.
b)   Por síncope: Legale  >  leal; Legenda  >  lenda;. Malu  >  mau; Bondadoso > bondoso; Tragicocomédia > tragicomédia; Formicicida  > formicida.
c)   Por apócope: Mare  >  mar; Amat  >  ama; Male  >  mal.
d)   Por crase: Pede > pee > pé; Colore > coor > cor; Nudu > nuu > nu; Outra+hora > outrora; De+este > deste; De+intro > dentro.
Metaplasmos por Transposição
a)   Por metátese: Pro  >  por; Semper  >  sempre; Inter  >  entre.
b)   Por hipértese: Capio  >  caibo; Primariu > primairo > primeiro; Fenestra > festra > fresta.
c)   Por sístole: Pantânu  >  pântano; Campâna  >  campa; Idólu  >  ídolo.
d)   Por diástole: Límite  >  limite; Pônere  >  ponere; Tênebra  >  tenebra.
Metaplasmos por Transformação
a)   Por vocalização: Nocte  >  noite; Regnu  >  reino; Multu  >  muito.
b)   Por consonantização: Iam  >  já; Iesus  >  Jesus; Uita  >  vida; Uacca  >  vaca.
c)   Por nasalização: Nec  >  nem; Mihi  > mim; Bonu  >  bom.
d)   Por desnasalização: Luna > lua > lua; Bona > bõa > boa; Ponere > põer > por.
e)   Por assimilação: Ipsu  >  isso; Persona > pessoa; Mirabilia > maravilha; Per+lo > pello > pelo; Auru > ouro; Lacte > laite > leite; Assibilare > assibiar > assobiar; Amam-lo > amam-no; Nostro > nosso; Persicu > pêssego; Captare > cattar > catar; Ipsa > essa.
f)     Por dissimilação: Liliu  >  lírio; Memorare > membrar > lembrar; Rotundo > rodondo > redondo; Aratru > arado; Cribru > crivo; Rostru > rosto.
g)   Por sonorização: Capio > caibo; Lupu > lobo; Sapui > soube; Civitate > cidade; Maritu > marido; Pacare > pagar; Aqua > água; Amicu > amigo; Aquila > águia; Vicinu > vizinho; Facere > fazer; Profectu > proveito; caballu > cavalo; Populu > pobo > povo.
h)   Por palatização: Vinea > vinha; Aranea > aranha; Seniore > senhor; Juniu > junho / Palea > palha; Folia > folha; Juliu > julho / Video > vejo; Hodie > hoje; Invidia > inveja / Pluvia > chuva; Implere > encher; Clave > chave; Flama > chama; Inflare > inchar / Oculu > oclo > olho; Apicula > apecla > abelha; Tegula > tegla > telha; Scopulu > scoplo > escolho / Pisce > peixe; Passione > paixão; Miscere > mexer; Russeu > roxo / Cerevisia > cerveja; Basiu > beijo; Ecclesia > igreja.
i)      Por assibilação: Capitia > cabeça; >Lentiu > lenço; Belitia > beleza; Ratione   > razão (o T se pronuncia C ou Z)/  Audio > ouço; Ardeo > arço / Lancea > lança; Minacia > ameaça; Judiciu > juízo; Gallicia > Galiza.
j)      Por ditongação: Malo > mao > mau; Sto > estou; Do > dou; Arena > área > areia.
k)   Por redução: Fructo > Fruito (forma arcaica) > fruto; Lucta  > luita (forma arcaica) > luta; Auricula > orelha.
l)      Por apofonia: In+aptu > inepto; In+barba > imberbe; Sub+jactu > sujeito.
m)          Por metafonia: Debita > dívida; Tosso (verbo tossir) > tusso; Cobro (verbo cobrir) > cubro; Tepidu > tíbio.
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          No Latim temos seis casos, cada um deles com funções sintáticas distintas. Os seis casos são:
a)   NOMINATIVO, com a função sintática de Sujeito;
b)   VOCATIVO, com a função sintática do próprio Vocativo em português;
c)   GENITIVO, com a função sintática de Adjunto Adnominal Restritivo;
d)   DATIVO, com a função sintática de Objeto Indireto;
e)   ABLATIVO, com a função sintática de Adjunto Adverbial;
f)     ACUSATIVO, com a função sintática de Objeto Direto.
          É preciso observar que em Latim não se usa pronomes (singular ou plural), uma vez que a própria declinação já coloca o sujeito com seus respectivos complementos. Por exemplo:
         Puella est pulchra = A menina é bela
         Neste caso, Puella (menina) é o sujeito da oração e está no singular. Ora, se a palavra tem a função de sujeito, automaticamente ela está no Nominativo. Se está no Nominativo singular, sua terminação é A.
         Por outro lado, a palavra Pulchra (bela) é o adjunto Adnominal da oração e está concordando com MENINA, no singular. Logo, se ela é um Adjunto Adnominal, logicamente está no Genitivo. Se está no Genitivo singular, sua terminação é A.
          Vejamos, agora a mesma frase no plural:
          Puellae sunt pulchrae = As meninas são belas.
         Neste caso, a terminação do Nominativo Plural é AE. A mesma terminação vai para o Genitivo plural (AE).
          Bem! Você perguntaria: - Como vou saber a declinação
          Na primeira declinação, o Genitivo singular termina em AE.
          AS DECLINAÇÕES:
          Em Latim, existem cinco (5) Declinações.
          Todas as palavras que tem o GENITIVO singular em AE pertencem à Primeira Declinação. As desinências da 1ª Declinação são as seguintes:
          Nominativo singular   >   A            -         Nominativo plural   >   AE
          Vocativo singular        >  A            -          Vocativo plural        >  AE
          Genitivo singular        >  AE          -          Genitivo plural         >  ARUM
          Dativo singular           >  AE          -           Dativo plural            >  IS
          Ablativo singular       >  A             -           Ablativo plural        >  IS
          Acusativo singular   >  AM          -           Acusativo plural     >  AS
OBS.: Volte um pouco e dê uma lida nos casos e suas funções sintáticas, para que você entenda este caso com mais facilidade. Procure aprender bem os casos e as declinações.
A seguir, continuação desta aula com as outras declinações. Até lá!
FIM DA PRIMEIRA LIÇÃO
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LIÇÃO 02
          Dando sequência ao nosso estudo, vamos conhecer as desinências da 2ª Declinação, cujo Genitivo singular termina em I. logo, qualquer palavra que traga essa desinência no genitivo singular, pertence à 2ª Declinação, como podemos ver nos exemplos: ROMANUS – Romani / LIBER – Libre / VIR – Viri / BELLUM – Belli.
          Você deve ter notado nos exemplos algumas palavras com terminações diferentes. É que existem um grande número de palavras da 2ª declinação que fazem o seu Nominativo em US (romanus-i; dominus-i; servus-i, etc.0
          No entanto, existe um número menor de palavras,  cujos nominativos terminam em ER, mas que também pertencem à 2ª declinação. São exemplos as palavras LIBER-libri; AGER – agri; PUER – pueri, etc.
        Muitas palavras da língua portuguesa têm derivações prefixais latinas. Vejamos algumas:
        Ab+dicar (do latim abdicare) = renunciar;
        Ab+jurar (do latim abjurare) = jurar contra;
        Abs+ter (do latim abstinere) = privar de alguma coisa;
        Abs+trair (do latim abstrahere) = separar;
        A+versão (do latim aversio) = grande repugnância; antipatia;
        Ad+junto (do latim adjunctus) = próximo; unido;
        Ad+venticio (do latim adventicius = que vem de fora; estranho.
        VEJAMOS ALGUNS PREFIXOS LATINOS
        Ab > (Separação; afastamento) Ab+duzir (abducere) = desviar; afastar.
        Abs > (Separação; afastamento) Abs+conso (absconsus) = escondido; difícil de compreender;
        A > (Separação; afastamento) A+nimar (animare) = dar vida; dar ânimo;
        Ad > (Aproximação; direção) Ad+vogado (advocatus) = assistir, representar alguém;
        Ar > Ar+rebanhar (rapinare) = ajuntar; reunir;
        As > As+sentir (assentire) = consentir, concordar;
        Ante >  (Anterioridade) Ante+braço (ante+brachium) = parte entre o cotovelo e o pulso;
        Circum(n) > (Movimento em torno) Circun+vagar (circumvagare) = andar em torno; dar voltas;
        Cis > (a maioria do grego KIS) > (Posição aquém) Cis+terna (cisterna) = reservatório para água.
        OS RADICAIS LATINOS
        AGRI > ager, agri > campo > agri+culto (tura);
        AMBI >  ambo > ambos > ambi+destro;
        ARBORI > arbor, oris > árvore > arborí+cola;
        AVI > avis, avis > ave > avi+fauna;
        BIS/BI > bis > duas vezes > bis+avô/bí+pede;
        CALORI > calor, oris > calor > calorí+fero;
        CRUCI > crux, ucis > cruz > cuci+fixo;
        CURVI > curvus, a, um > curvo > curvi+líneo;
        EQUI > aequuos, a, um > igual > equi+distante;
        FERRI, O > ferrum, i > ferro > ferrí+fero / ferro+via;
        IGNI > ignis, is > fogo > igní+vomo (vomita fogo)
        LOCO > locus, i > lugar > loco+motiva;
        MORTI > mors, mortis > morte > mortí+fero;
        MULTI > multus, a, um > muito > multi+forme;
        OLEI/OLEO > oleum, i > azeite, óleo > oleí+geno/oleo+duto;
        ONI > omnis, e > todo > oni+potente / onis+ciente;
        PEDI > Pes, Pedis > pé > pedi+lúvio;
        PISCI > piscis, is > peixe > pisci+cultor;
        PLURI > plus, pluris > muitos, vários > pluri+forme;
        QUADRI/QUADRU > qualtuor > quatro > quadri+motor; quadrú+pede;
        RADIO > radius, ii > raio > radio+grafia;
        RETI > rectus, a, um > reto > reti+líneo;
        SEMI > semi > metade > semi+circulo; semi+árido;
        SESQUI > sesqui > um e meio > sesqui+centenário;
        TRI > tres, tria > três > tri+color;
        UNI > unus, a, um > um > uní+ssono;
        VERMI > vermis, is > verme > vermí+fugo; vermi+cida.
     COMO SEGUNDO ELEMENTO DA COMPOSIÇÃO
        CIDA > que mata > regi+cida; sui+cida;
        COLA > que cultiva ou habita > vití+cola; arborí+cola;
        CULTURA > ato de cultivar > api+cultura; pisci+cultura;
        FERO > Que contém ou produz > aurí+fero; flamí+fero;
        FICO > que faz ou produz > bené+fico; frigorí+fico;
        FORME > que tem forma de > cunei+forme; flori+forme;
        FUGO > que foge, que faz fugir > centrí+fugo; febrí+fugo;
        GERO > que contém; que produz > armí+gero; belí+gero;
        SONO > que soa > horrís+sono; unís+sono;
        VORO > que come > carní+voro; herbí+voro.
        OBS.: Na língua portuguesa, estas palavras recebem o nome de sufixos.
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        VERBO SUM = SER (Verbo Irregular)
        Sum – Es – Est – Summus – Estis – Sunt. (presente)
        Eram – eras – erat – eramus – eratis – erant. (Imperfeito)
        Ero – eris – erit – erimus – eritis – erunt. (Futuro do Imperfeito)
        Fui – fuisti – fuit – fuimus – fuistis – fuerunt. (Perfeito)
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        VERBO AMARE  = AMAR > 1ª conjugação
        Amo – Amas – Amat – Amamus – Amatis – Amant. (Presente do Indicativo) AMO
        Amabam – Amabas – Amabat – Amabamus – Amabatis – Amabant (Imperfeito) AMAVA
        Amabo – Amabis – Amabit – Amabimus – Amabitis – Amabunt (Futuro do Presente) AMAREI
        Amavi – Amavisti – Amavit – Amavimus – Amavistis –Amaverunt (Perfeito) AMEI – TENHO AMADO
        VERBO LEGERE  =  LER  -  3ª conjugação
        (Lego, is, legi, lectum, ere)
        Lego – legis – legit – legimus – legitis – legunt (presente)
        Legebam – legebas – legebat – legebamus – legebatis – legebant. (Imperfeito)
        Legam – leges – leget – legemus – legetis – legent. (Futuro)
        Legi – legisti – legit – legimus – legistis – legerunt. (Perfeito)
        VERBO LAUDARE  =  LOUVAR (1ª Conjugação)
        Laudo – Laudas – Laudat – Laudamus – Laudatis – Laudant. (Presente do Indicativo) - LOUVO
        Laudabam – Laudabas – Laudabat – Laudabamus – Laudabatis – Laudabant. (Imp. do Indicativo) LOUVAVA
        Laudabo – Laudabas – Laudababit – Laudabimus – Laudabitis – Laudabunt. (Fut. do Presente) LOUVAREI
        Laudavi – Laudavisti – Laudavit – Laudavimus – Laudavistis – Laudaverunt. (Perfeito) Louvei / Tenho louvado.
OBS.: Outro fato que precisamos destacar é o não uso dos pronomes pessoais (eu – tu – ele(s) – nós – vós – eles) em alguns casos do  Latim, com o podemos notar nas conjugações dos verbos. Isso não significa dizer que eles não existem no Latim. Vamos conhecê-los!!!
          Em primeiro lugar, precisamos saber que o PRONOME é a palavra que substitui ou pode substituir o SUBSTANTIVO. Então, vamos conhecer os Pronomes Pessoais Latinos:
          SINGULAR
Nominativo                            EGO             -       TU                    (não tem)
Vocativo                                (não tem)     -       TU                   (não tem)
Genitivo                                 MEI                -       TUI               -    SUI
Dativo                                    MIHI               -       TIBI              -    SIBI
Ablativo                                ME                  -       TE                -    SE
Acusativo                            ME                  -       TE                -     SE ou SESE
          PLURAL
Nominativo                -        NOS                                    -   VOS                                    -  (não tem)
Vocativo                    -         (não tem)                          -   VOS                                    -  (não tem)
Genitivo                    -         NOSTRUM ou NOSTRI   -   VESTRUM ou VESTRI     -  SUI
Dativo                       -          NOBIS                               -   VOBIS                                 -  SIBI
Ablativo                   -          NOBIS                               -    VOBIS                                -  SE
Acusativo               -          NOS                                   -    VOS                                 -  SE ou SESE
Observações:
1 - Note que no singular e no plural do CASO RETO não existem  Vocativos nas 1ª e 3ª pessoas e Nominativo nas 3ª pessoas. Já no singular e no plural do CASO OBLÍQUO existem Pronomes em todos os casos.
Vejamos esses exemplos:
Me laudant = Louvam-me  >  Verbo transitivo direto.
Mihi parente = Obedecem-me  > Verbo transitivo indireto.
Veja que, em Português ME, TE, NOS, VOS servem para objetos diretos e indiretos. Em Latim, as formas são diferentes.
PRONOMES DEMONSTRATIVOS
Em Latim, os pronomes demonstrativos se apresentam nas formas: Masculino, Feminino e Neutro, como podemos ver no quadro seguinte:
MEU          -   MEUS           -     MEA           -     MEUM
TEU          -   TUUS            -     TUA            -      TUUM
SEU         -    SUUS           -     SUA             -      SUUM
NOSSO   -    NOSTER     -     NOSTRA     -     NOSTRUM
VOSSO   -    VESTER     -      VESTRA     -     VESTRUM
SEU        -     SUUS          -     SUA             -       SUUM
Preste atenção nestas expressões com a palavra IPSE (pronome demonstrativo): “IPSE CAESAR” (O próprio Cesar) – “TRIENNIO IPSO MINOR” (Justamente três anos mais moço).
O próprio – a própria – ele próprio – ela própria – eu próprio – tu próprio.
        Vejamos alguns exemplos simples, para nos familiarizarmos com o Latim:
        1 – Poeta linguam Graeciae amat. (O poeta ama a língua da Grécia). (Poeta linguam graeciae amat)
        POETA está no nominativo singular. Logo, é o sujeito da oração. (o poeta)
        LINGUAM está no acusativo. Logo, é o Objeto Direto da oração. (a língua)
        GRAECIAE está no Genitivo singular. Logo, é o Adjunto Adnominal da oração. (da Grécia)
        AMAT é o verbo da oração e está na 3ª pessoa do singular, referindo-se ao poeta.
        OBS.: Geralmente, em Latim, o verbo vem no final da frase.
        2 – Maria mater Jesu est. (Maria é a mãe de Jesus)
                  Maria (suj.) / Mater (comp. nom.) / Jesu (comp. adnominal.)
        3 – Agricolae amant campum. (os agricultores amam o campo)
                 Agricolae (suj.) / Campum (obj. dir.) / Amant (verbo amare)
        4 – Agricolas laudamos. (saudamos os agricultores)
                 Agricolas (obj. dir.) Laudamus (verbo laudare)
        5 – Victoriam nuntiamus. (anunciamos a vitória)
                 Vitoriam (obj. dir.)  Nuntiamus (verbo nuntiare)
        6 – Regina ancillarum. (ó rainha das escravas)
                 Regina (vocativo)  Ancillarum (adj.adn.)
        7 – Ancilla reginae. (ó escrava da rainha)
                 Ancilla (vocativo)  Reginae (adj. Adn.)
        8 – Regina nautarum. (ó rainha dos marinheiros)
                  Regina (vocativo)  Nautarum (adj. Adn.)
        9 – Poetae (dat.) victoriae (gen.). (ao poeta da vitória)
                 Poetae (obj. ind.)  Victoriae  (adj. Adn.)
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QUE TAL CANTARMOS O HINO NACIONAL BRASILEIRO EM LATIM!!!
        HYMNUS BRASILIENSIS
                                    I
        Audierunt Ypirangae ripae placidae,
        Heroicae gentis validum clamarem,
        Solisque libertatis flammae fulgidae,
        Sparsere Patriae in caelos tum fulgorem.
                  Pignus vero aequalitatis
                  Possidere si poluimus brachio forti
                  Almo gremio en libertatis,
                  Audem sese offert  ipsi pectus morti!
        O cara Patria, Amoris atria,
        Salve! Salve!
        Brasília, somnium tensum, flamma vivida,
        Amorem ferem spemque ad orbis claustrum,
        Si pulchri caele alacritate limpida,
        Splendescit almum, fulgens, Crucis plaustrum.
                  Ex propria gigas positus natura,
                  Impavida, fortisque, ingensque moles,
                  Te magnam praevidebunt jiam futura.
        Tellus dilecta, Inter similia
        Arva, Brasilia, Es Patria electa!
        Natorum parens alma es inter lilia,
        Patria cara, Brasilia
        In cunis semper strata mire splendidis,
        Sonante mari, caeli albo profundi,
        Effulgie, o Brasilia, flos Americae,
        A soli irradiata Novi Mundi!
                     Ceterisque in arbe plagis
                     Tui rident agri florum ditiores;
                      “Tenent silvae en vitam magis,
                     Magis tenet tua sinu vita amores.”
        O cara Patria, amoris  atria,
        Salve! Salve!
                       Brasilia, aeterni amoris fiat  symbolum,
                       Quod affers tecum, labarum stellatum.
                       Em dicat aurea viridisque flammula
                       Ventura pax decusque superatum.
        Si vero tollis Themis clavam fortem,
        Non filios tuos videbis vacillantes,
        Aut, in amando te, timentes mortem.
                    Tellus dilecta, Inter similia
                    Arva, Brasilia, es Patria electa!
                    Notorum parens alma es inter lilia,
                    Patria cara, Brasilia!


FIM DA AULA 02  -  
ATÉ A PRÓXIMA AULA!