segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ENCONTREI O FILHO QUE PENSAVA TER PERDIDO!

UM REENCONTRO TEMPERADO COM ALEGRIAS E EMOÇÔES!

Revolta-me ver pais negando a paternidade àqueles a quem deveriam dedicar todo o seu carinho, todo o seu amor, todo o seu afeto. Negar a paternidade, na minha concepção, não passa de um ato de covardia.
Eu tive uma paixão por uma jovem e dessa paixão nasceu uma criança, que recebeu o nome de Enoque e que foi entregue, pela própria mãe, a um casal. Soube da gravidez daquela minha paixão através de uma amiga nossa. Procurado pelos pais adotivos do meu filho, prometi-lhe guardar o segredo da adoção “a sete chaves”. Não foi fácil para mim ficar sem ter o direito de abraçar e beijar o meu filho. Promessa é promessa e eu tinha que cumpri-la.
Os anos passaram. Não resistindo a dor da separação do meu filho, resolvi quebrar a promessa e passei a procurá-lo. Foram muitas as tentativas, sem nenhum sucesso. A criança cresceu sem o carinho verdadeiro do pai distante e desconhecido.
Em 1989, voltei a Patos para trabalhar na Rádio Itatiunga. Era mais uma esperança de encontrar o Enoque. Nada feito. Para mim, as esperanças já haviam esgotado. Eu o havia visto pela última vez aos sete anos de idade. O tempo passou e lá se foram 34 anos.
O mundo ficou muito pequeno depois do advento da Internet. Tão pequeno ficou o mundo que, para minha surpresa, recebi o e-mail seguinte:
Allan Vyctor
euallann@gmail.com
Para adalbertoclaudino@hotmail.com
De: Allan Xavier (euallann@gmail.com)
Enviada: sábado, 23 de abril de 2011 18:34:35
Para: adalbertoclaudino@hotmail.com
Olá, me chamo Allan Vyctor Araujo Xavier e descobri hoje que sou seu neto.. O senhor deve se lembrar de Ruth de Sá, ela me afirmou hoje que o senhor era pai de Enoque, meu pai. Queria saber do senhor, meu avô, se for recíproco, responda meu e-mail.
Calcular a minha alegria é algo impossível até para o mais famoso matemático. Não pensei duas vezes para responder àquele “anjo” chamado Allan, agora plenamente reconhecido como meu neto. Imediatamente, mandei a seguinte resposta:
Meu querido Allan Vyctor! Depois de receber o seu e-mail, fiquei pensando se deveria contar para você parte da história que culminou com o nascimento de seu pai, ou se deveria permanecer no silêncio. Cheguei à conclusão de que você precisaria saber a verdade. Lá para o final da década de 60, eu era Secretário da Cruzada ABC, um programa social mantido pelos Estados Unidos da América do Norte, com o objetivo de ajudar os estudantes das escolas localizadas nas zonas rurais. Eram distribuídos feijão, arroz, fubá e óleo comestível. Foi nessa época que conheci a Ruth, que também trabalhava na mesma Cruzada. Nossa convivência fez com que nos apaixonássemos um pelo outro. Foi uma paixão muito forte. A Ruth era uma jovem linda, charmosa e bastante atraente. Uma pessoa extraordinária. Nosso relacionamento foi além dos limites. Um dia, uma amiga da Ruth, cujo nome não lembro, pois só sei que ela morava no Bairro da Liberdade, procurou-me para dizer que a Ruth estava grávida. Eu a amava muito, mas já era casado e tinha três ou quatro filhos. Para mim, seria uma injustiça abandonar as crianças. Cheguei a pensar em ir embora com Ruth e a criança, para vivermos nossa vida longe de tudo e de todos. Sei que errei em permitir que ela entregasse o nosso filho, o Enoque, a pessoas estranhas. Certo dia, fui chamado pelo casal que adotara o Enoque. Eles me pediram até pelo amor de Deus, que eu não revelasse ser o pai da criança. Eu prometi, mas sempre ia comprar verduras e frutas na banca do casal (fora do mercado modelo de Patos), só para ver meu filho. Sentia vontade de abraçá-lo, beijá-lo e gritar em alta voz: - VOCÊ É MEU FILHO E EU SOU SEU PAI!!! Porém me esforçava para cumprir a promessa feita. Os anos passaram, mas a vontade de ver meu filho passou a ser uma tortura. Soube que a Ruth havia se casado com o administrador de uma fazenda (não sei se foi verdade). Isso me deixou mais tranquilo, pois se ela estava feliz, para mim era motivo de felicidade. Nunca esqueci meu filho Enoque. Quando eu fui para Patos, em 1989, trabalhar na Rádio Itatiunga, sempre perguntava aos amigos se eles conheciam alguém por nome de Enoque. Eu estava disposto a descumprir a promessa e revelar-lhe o segredo. Mas nunca tive notícias dele e, muito menos da Ruth. Hoje, depois de receber o seu e-mail, agradeci a Deus por ter ouvido o meu pedido. Eu sempre implorava a Deus que me mostrasse um jeito de me aproximar do meu filho e vejo em você, meu neto, esta "ponte" para levar-me ao filho que eu tanto amo, mas que as circunstâncias nos separaram. Faça isso para mim. Diga ao seu pai que eu o amo muito e que o quero como meu verdadeiro filho. Espero ter deixado você a par da nossa história, embora de forma bem resumida. Um forte e carinhoso abraço.

Do teu avô Adalberto.

A partir daí, nossa comunicação passou a ser freqüente. Eu precisava, agora mais que nunca, ver o meu filho. Agora sim, poderia abraçá-lo, beijá-lo e dizer o quanto eu era feliz ao reencontrá-lo depois de 34 anos. A resposta do meu neto Allan deixou-me ainda mais confiante de ser bem recebido por todos. Afinal, eu já sabia que tinha mais 6 netos (Alany, Allan, Arthur, Thamires, Ian e Edvaldo Angelino):

Meu avô (Adalberto),
Muito feliz em saber que tenho um avô, um antepassado, um referencial, um segundo pai. Acho a história que o senhor me contou muito linda e interessante, quase inacreditável, mas pelas suas palavras e por pressupor e perceber seu caráter creio muito nelas. Espero que tenha sido realmente a 'ponte' para o encontro entre o senhor e meu pai, torço muito pra isso.
Bom, meu avô, eu não tenho muito tempo pra escrever uma carta completa ou coisa maior, sou estudando de filosofia da ufpb, ou seja, só tenho tempo pra comer e orar (olhe a hora em que escrevi esse e-mail), estou morando sozinho em João Pessoa, Enoque e Damiana (minha mãe) moram em Patos. Mas no fim de semana te escrevo mais. Me conte mais sobre sua vida se puder, sua faculdade de letras (agora eu sei de onde veio minha vocação para a área de humanas), sua vida de radialista, se o senhor pretende ver meu pai, ou se pretende me conhecer pessoalmente.
Eu vi o e-mail que o senhor mandou pra meu pai, desculpe se ele escreveu meio durão, mas esse é o jeito dele, puxou a avó Ruth, eu acho, mas pelo que ele tem me falado por telefone tem interesse em conhecer o senhor mesmo.
Pra constar, me chama Allan Vyctor Araujo Xavier, tenho 18 anos, estudante de filosofia, Cristão-protestante, também da Igreja Presbiteriana, só que Independente e de Patos, gosto de poesia, de boa leitura, toco violão e AMO MEU SENHOR DEUS.
A única foto que tenho aqui é uma ou outra com minha namorada, vou lhe enviar.

Do seu querido neto, Allan.
QUE O ALTÍSSIMO ESTEJA COM O SENHOR.

Até meu neto Arthur, de 14 anos, resolveu seguir o exemplo do irmão Allan e mandou-me um e-mail, deixando bastante emocionado:

Oi, meu nome é Arthur. Sou o filho do meio de Enoque, tenho 14 anos de idade ,estou fazendo o primeiro ano do ensino médio ,e pretendo ser fazer a faculdade de direito, pretendo ser um brilhante advogado! Eu vou completar 15 anos em 1º de junho e o meu maior presente vai ser conhecer o Sr. espero com muita ânsia. Tenho em irmão chamado Ian, de 10 anos que mora comigo. Eu e ele somos frutos do 2 relacionamento do meu pai.
Sou evangélico (da igreja Sara Nossa Terra) aqui de Patos e o meu irmão esta começando a entrar no caminho Divino dos céus.Esse é só um trechinho da minha vida. Aguardo sua vinda. Arthur.

Enfim, o Enoque resolveu se pronunciar. Reconheço a sua situação diante de tudo aquilo que o passado lhe havia reservado, inclusive as incertezas que sempre falaram mais alto ao seu coração. E isso ficou demonstrado na sua primeira oportunidade de se dirigir à minha pessoa:

Caro Adalberto

Desculpe não chamá-lo de Pai nesse nosso primeiro contato em 41 anos. Gostaria muito de esclarecer de uma vez por todas a minha origem. Li sua carta enviada para seu neto Allan; através dele estou tendo essa oportunidade, de escrever para o Sr. confesso que nesses últimos anos não tinha interesse em saber a verdade sobre o meu passado ou origem se preferir Em relação ao meu Pai Biológico, mas agora quero conhecê-lo, não me interessa os motivos que o levou a não assumir essa Paternidade, como também as suas condições financeiras ou conjugal para uma aproximação que espero começar a partir de hoje. Uso essas palavras pois não sei como será a reação de sua família em relação a este repentino episodio das nossas vidas.

Agora deixe me apresentar:

Fui registrado com o nome civil de Edvaldo Oliveira Xavier mas sou conhecido como "Enoque" tenho 41 anos de idade. Trabalho no ramo de transporte de passageiros; Sou encarregado a Expresso Guanabara em Patos. Tenho seis filhos (Seus Netos) por ordem de nascimento são: Alany 19 anos , Allan 18 anos Thamires 16 anos Arthur 15 anos Ian 10 anos e Edvaldo Angelino de 1,5 anos. Em breve estarei enviando fotos dos mesmo para o Sr. ver como são todos lindos!!
Agora gostaria que o Sr. respondesse essa carta com um pouco da sua historia, como por exemplo quantos irmãos eu tenho, quantos sobrinhos.
Como estou usando uma ferramenta de trabalho não vou me alongar muito, fico no aguardo de sua resposta, e esperando nunca mais perder contato com o Sr. não estranhe ter ficado um texto formal, só o tempo vai nos deixar íntimos, como pai e filho.
Edvaldo O. Xavier (Enoque)
Bem, deixando o passado apenas nas vagas lembranças, é chegada a hora de mostrar alguns momentos do nosso tão desejado encontro em Patos, nos dias 15 e 16 de julho de 2011: